31/1/2010
Um dos mais antigos projetos industriais esperados no Estado deve começar a virar realidade no Pecém a partir de março. No referido mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá aprovar a Zona de Processamento de Exportações (ZPE) do Pecém, que, de acordo com os planos estaduais, irá operar já no primeiro semestre de 2011.
A zona irá englobar indústrias voltadas para exportação, que contarão com liberdade fiscal em suas operações no comércio exterior. Este modelo, já existente em várias partes do mundo, gera resultados positivos com a forte atração de empresas e, aqui, o governo já configurou um conceito que deverá dar ainda mais peso à ZPE cearense: o "Eco-Parque Industrial".
Estrutura
"O Eco-Parque é uma estrutura de distrito industrial especial em que todas as questões em meio ambiente são tratadas de forma mais completa e integrada", explica o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado (Adece), Antônio Balhmann. Esse modelo trabalha a recirculação dos materiais utilizados nas indústrias. Na prática, um cluster de atividades inter-relacionadas entre si seria o objetivo desse tipo de conceito.
De acordo com o presidente da Adece, este é um conceito novo no mundo, e fará um diferencial na ZPE do Ceará. "As empresas que estiverem na ZPE do Ceará vão institucionalmente incorporar essa característica, valorizando a sua marca. Nós queremos diferenciar os produtos da ZPE com esse conceito de eco-parque", diz.
A definição, como explica Balhmann, funciona como um estratégia para atração de investimentos. "Devemos atrair, por exemplo, empresas de alimentos exportadoras só por causa desse conceito. Isso porque esse segmento tem controles maiores de qualidade no comércio exterior, exige mais marcas com mais peso. Essa questão (do ecologicamente correto) hoje já é uma exigência mundial".
Valorização
A decisão por esse modelo, aponta, vai valorizar a localização do Pecém. "O Porto do Pecém é um terminal portuário muito novo, e o fato de ter uma ZPE dentro da área, nesse conceito de eco-parque, certamente vai favorecer as empresas que exportam, que precisam hoje agregar à sua marca e a seus processos produtivos esse conceito, já por exigência do mercado mundial", diz.
O presidente da Adece informa que já existem mais de 30 empresas que demonstraram interesse em se instalar na zona de processamento do Pecém. Entre os segmentos que devem direcionar suas unidades de produção e exportação para lá, Balhmann destaca as empresas de frutas, em especial as ´packing houses´, que são as unidades de embalagem dos produtos.
"Quem opera fruta certamente vai ter packing house dentro das proximidades da fazenda, e uma outra parte, a de embalagem final, e outros processos de beneficiamento da fruta, deverá ser dentro da ZPE", informa. A indústria de calçados, que é uma das principais exportadoras do Estado, também deve ter unidades fabris na zona, assim como as confecções, em especial a de jeans, e a área de eletroeletrônicos. "As que já estão no Estado não devem fazer uma nova planta dentro da ZPE. Elas vão pegar a fase final e colocar lá", esclarece.
Atraso
As ZPEs são distritos industriais incentivados, onde as empresas nelas localizadas operam com suspensão de impostos, liberdade cambial (não são obrigadas a converter em reais as divisas obtidas nas exportações), além de procedimentos administrativos simplificados - com a condição de destinarem pelo menos 80% de suas produções ao mercado externo.
A parcela de até 20% da produção vendida no mercado doméstico paga integralmente os impostos normalmente cobrados sobre as importações.
A ZPE é uma alternativa de desenvolvimento econômico em várias partes do mundo, sobretudo em países asiáticos, e o Brasil está atrasado, segundo avaliam os especialistas. Com a nova legislação e com o empenho do Governo Federal e dos Estados, espera-se conseguir superar o atraso. (SS)
Empregos já atraem mão-de-obra
"Eu trabalhava em uma fábrica de sal mineral para alimentação de animais, aqui mesmo no Pecém, mas resolvi entrar na equipe das obras da esteira como auxiliar de topógrafo porque o salário é melhor. E acredito que a gente tem que procurar sempre o melhor. Estou decidido disto, mesmo este emprego sendo temporário. É porque, com tantas obras, quando terminar essa, logo deve surgir outra. Sei que terão mais emprego depois, eu estou tranquilo. Hoje, a gente vê que boa parte do pessoal do município de São Gonçalo do Amarante está trabalhando nesses grandes projetos do Porto do Pecém. Não existe mais aquela dificuldade de encontrar emprego."
GILMAR FARIAS, 28, AUXILIAR DE TOPÓGRAFO
"Há duas semanas eu comecei a trabalhar nas obras da siderúrgica como pedreiro. Estamos, no momento, construindo o refeitório, e outras estruturas aqui. Estava há seis meses desempregado, então cheguei aqui, e arranjei este emprego. Estou feliz com o trabalho, e quero continuar nas obras até o fim. Sou do distrito de Siupé, em São Gonçalo, e lá também tem muita gente trabalhando nas obras do Pecém. Antes, eu estava trabalhando na construção de um resort lá em Taíba. Agora, no Pecém. Espero que daqui pra frente o trabalho não vá parar. Lembro que antes era uma dificuldade medonha conseguir emprego; agora, todo mundo tem, é emprego de todo lado."
GASTÃO FREITAS, 48, PEDREIRO
"Já estamos sentindo bastante dificuldade para conseguir mão-de-obra por aqui pelo Pecém e nas localidades vizinhas. Antes, assim que eu precisava, bastava "dar um grito" e apareciam mais de 50 pessoas prontas para trabalhar. Os moradores daqui eram, na maioria, pessoas desempregadas. Mas, percebemos que esta realidade mudou, com a recente chegada de todas essas obras no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, que já começaram a gerar muitas vagas de emprego. Atualmente, para arranjar poucos trabalhadores pra fazerem um simples serviço para o meu a minha empresa, não tem. As coisas mudaram."
JOÃO CARLOS, "SASSÁ", EMPREENDEDOR
Fonte: Diário do Nordeste
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