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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Para conquistar novo público, empresas reinventam marcas tradicionais

G1

Por mais de um século, as vendas da Granado Pharmácias, empresa fundada em 1870 no Rio de Janeiro, praticamente resumiram-se a dois "carros-chefes": o sabonete de glicerina e o polvilho antisséptico. Nos últimos anos, porém, a empresa passou por um processo de "reinvenção" que culminou na abertura de lojas em regiões nobres em São Paulo e no Rio de Janeiro e no desenvolvimento de uma linha de 250 produtos vendidos para todo o Brasil pela internet.

Com a ampliação da linha de produtos, a diretora de marketing da Granado, Sissi Freeman, diz que a dependência dos produtos tradicionais diminuiu e os produtos ganharam mais valor agregado. Há cerca de cinco anos, 70% das vendas da Granado eram fruto do polvilho antisséptico tradicional, proporção que recentemente caiu para 50%.

O tradicional polvilho antisséptico, antes relegado à embalagem marrom, também evoluiu. Sissi diz que ele ganhou novas versões – entre elas, a da linha Pink, direcionada ao público feminino –, modernizando-se junto com a linha de sabonetes, cremes, talcos e perfumes. Como resultado, diz ela, o faturamento da empresa vem crescendo 20% ao ano desde 2007.

Produtos mais caros

A estratégia de lojas próprias permitiu, segundo a diretora da empresa, o oferecimento de produtos de maior valor agregado não apenas da Granado, mas também a revitalização da marca Phebo, da qual a empresa também é proprietária. Vendidas no site em frascos de vidro, por exemplo, os novos perfumes Phebo de 100 ml chegam a custar R$ 110.

Além das unidades de fábrica, em Belém e no Rio de Janeiro, a Granado optou por trazer seus produtos para a "classe A", com lojas próprias na Daslu e nos Jardins, em São Paulo, e no Leblon, no Rio. Em 2010, a empresa pretende abrir mais cinco novos pontos-de-venda, em mercados como Curitiba e Brasília.

A Granado tenta trazer para suas lojas uma clima de "antigamente": elas lembram as tradicionais boticas do início do século 20. O lançamento de produtos novos obedece a tradição e o caráter "vintage" das marcas, com embalagens de vidro de qualidade e logomarcas em letras serifadas.

Apesar de as lojas estarem em áreas nobres, Sissi conta que o objetivo da Granado é continuar a competir no quesito preço. Ela diz que um sabonete antiacne da marca, por exemplo, custa R$ 6, enquanto a média do mercado é de pelo menos o dobro disso.

"Não é bom a gente ser depender de um só produto. Por isso, o objetivo é oferecer mais qualidade, mas a um valor bacana. A nossa clientela, que era muito fiel, quer experimentar [variações]. Assim, criamos aos poucos a linha Pink, a linha bebê e a linha pet”, diz.

Outro objetivo para 2010, conta Sissi, é a finalização de um site exclusivo para as vendas dos produtos Phebo, hoje vendidos dentro do portal da Granado.

A ideia é deixar bem-definidas as características das duas marcas: a Phebo vai focar cosméticos e perfumes, resgatando o valor agregado da marca com novas linhas; já a Granado, diz a diretora, tem tradicionalmente características terapêuticas, aliadas a tratamentos para a pele, por exemplo.

Direto dos anos 80

Nos anos 80, a marca de artigos esportivos Topper vestiu ídolos como Zico, Falcão e Sócrates nos mundiais de futebol de 1982 e 1986. Depois de um período discreto, a marca foi adquirida pela Alpargatas brasileira junto com os demais ativos da empresa argentina de mesmo nome.

Agora, a Topper passa por um período de reformulação, que incluiu a abertura de uma “loja conceito” no ano passado, em São Paulo.

De acordo com Fernando Beer, diretor de artigos esportivos da Alpargatas, a imagem da Topper estava envelhecida. Por isso, uma das estratégias foi ampliar o portfólio, que agora inclui um maior número de esportes e também itens mais voltados para a moda. “No Brasil, antes a Topper atendia só o futebol e era exclusivamente masculina. Agora, é multicategoria e unissex”, explica ele.

Hoje, segundo Beer, metade das vendas da Topper vem do setor de moda esportiva – ou seja, são itens que podem ser usados no dia-a-dia e não apenas durante a prática de esportes. O objetivo, segundo o executivo, é aumentar o número de lojas próprias da Topper a partir de 2011 no Brasil. Na Argentina, onde a marca é mais forte, já existem 20 unidades próprias.

Embora uma empresa tenha sido contratada para reinventar a Topper, que ganhou uma “cara” mais internacional, o caráter “retrô” não foi totalmente abandonado: entre os produtos oferecidos na loja própria da marca em São Paulo estão camisetas estilizadas com o rosto do “doutor” Sócrates, garoto-propaganda da marca nos anos 80.

Jovem de hoje

Sucesso entre adolescentes nos anos 80 e 90, a Pakalolo “ressurgiu” no segundo semestre de 2009, administrada pelo grupo têxtil catarinense Marisol. A empresa havia comprado a marca em 2005, mas havia deixado o nome na “geladeira” até cerca de seis meses atrás, quando abriu três lojas Pakalolo (duas em São Paulo e uma em Florianópolis).

A marca pretende fechar 2010 com 20 lojas no país, operadas em esquema de franquia; nos próximos cinco anos, serão cerca de 100 lojas.

“Queríamos ver o que seria possível explorar em relação ao 'recall' que tem no mercado”, Roberto Keiber, diretor-executivo da Marisol, sobre o período de quatro anos de espera. O executivo aponta que, apesar de ter ficado sumida por mais de dez anos, não houve rejeição à marca: “A Pakalolo deixa uma memória muito positiva, na faixa de 35, 40 anos”, diz.

A “nova Pakalolo”, no entanto, tem foco nos consumidores de 18 a 25 anos – público que, em sua maioria, não era o mesmo que consumia a marca em seu auge. Keiber não vê problema: “Nós abrimos a loja no Morumbi e foi impressionante o reconhecimento do público jovem. Ele tem reconhecimento pelo fato do pai ou do irmão mais velho ter falado dessa marca."

Segundo Keiber, a marca foi adquirida para complementar o porfólio adulto da Marisol. “Nós entendemos naquele momento que essa marca se encaixaria nos próximos anos de trabalho da Marisol. Hoje nós temos um volume de 75% dos negócios no segmento infantil. O segmento adulto a gente vinha trabalhando numa parte mais acanhada e a compra veio com o objetivo de conquistar uma fatia maior nesse segmento”, diz.

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